O
costume de consertar os objetos queridos, especialmente os brinquedos, foi uma
coisa que me fascinou durante toda a
infância. As bruxinhas de pano, gastas
pelo uso intenso nas brincadeiras, quando eram recuperadas pelas vós e tias,
reencantavam-se. Era um prazer dobrado
andar com elas pelas ruas mágicas da imaginação. Era assim com todos os
brinquedos. Estavam sempre renascendo das cinzas e, dificilmente, eram jogados fora.
Por
isso, curti muito escrever a história da menina Olímpia na Casa de Consertos de
brinquedos de sua vó, Dona Sofia. Foi
muito divertido dar forma a um
encantamento guardado para sempre na
memória.
Dona
Sofia, uma enfermeira aposentada, abre uma oficina de consertos de brinquedos
na casa onde reside. Dona Sofia é uma leitora apaixonada por literatura e, além
de consertar os brinquedos quebrados, conversa muito com seus fregueses e
receita leituras literárias, conforme as queixas existenciais de cada um.
Olímpia,
neta de dona Sofia, passa as
férias na Casa de consertos e auxilia a avó atendendo os fregueses ao telefone.
A menina não se limita a atender os pedidos de consertos. Puxa conversa,
pergunta sobre a história do brinquedo a ser reformado, e não se furta a dar
suas opiniões sobre as histórias que ouve, resultando em diálogos engraçados e
poéticos.
Dona Marília, uma velhinha solitária, manda
consertar a bailarina, que foi presente do primeiro namorado. Gosta tanto de falar com Olímpia, que pede
licença pra telefonar de vez em quando só para conversar. Joaquim, o menino que envia um trenzinho para
o conserto, aproveita para queixar-se da escola, que o colocou na fila dos
fracos, só porque não aprendeu a ler rapidamente como queriam. Claro que a
menina não deixa de opinar sobre este comportamento da escola!
Há
um homem que quer colocar a mundo para conserto na oficina de Dona
Sofia. Olímpia indica a este homem como ele pode começar a consertar o
mundo.... Há o pai de uma moça que foi estudar na Austrália
e, de repente, esta moça pediu para a família mandar sua galinha dos ovos de
ouro, com a qual brincou na infância.
Estes e muitos outros personagens
ligam para a casa de consertos. Com
todos Olímpia conversa, para todos ela
tem uma ideia, uma opinião, um parecer poético, e até um consolo, como
não? Crianças sabem consolar os grandes muito bem. E como são originais e
límpidos!
Nunca tinha pensado nisso, mas... gostava de ser um brinquedo. Pelo menos teria alguma utilidade.
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